segunda-feira, 7 de maio de 2007

SERÁ QUE AINDA EXISTE CRIANÇA NO MERCADO CONSUMIDOR?

Por Adriana da Cunha Leocádio

Dona Benta, como se sabe, é uma senhora de muita leitura. É ela quem leva para as crianças do Sítio do Pica Pau Amarelo, um apanhado da evolução da humanidade, um pouquinho a cada noite.Desde o seu início, nas cavernas, até a bomba atômica de Hiroshima, a história do mundo é relatada como um verdadeiro romance
Monteiro Lobato.

Conhecer as características que compõem o comportamento de compra do consumidor infantil na atualidade, é uma missão árdua para todo profissional de marketing, pois tudo começa com a própria conceituação do que é o “mercado infantil”.

Por muito tempo, a criança foi vista como miniatura de um adulto, ou seja, um indivíduo com experiências menos desenvolvidas que os das pessoas de maior idade. As crianças formam um grupo especialmente suscetíveis as influências externas, como por exemplo, os pais, a comunicação das empresas e o mercado televisivo.

“Psicólogos e comerciantes que lidam com crianças, declaram que desde muito cedo, a criança começa a distinguir e separar as coisas. Não acreditam mais em todos os comerciais de TV. Duvidam de heróis que ganham de um número exagerado de bandidos. Gostam de cantar junto, de participar, colecionar coisas.”

Consumidores desde o momento em que nascem, as crianças têm despertado cada vez mais a atenção e cuidados por parte de fabricantes e lojistas nos mais diversos setores de produtos e serviços. Porém, até pouco tempo, crianças exerciam apenas o papel de influenciador nas compras realizadas pelos pais. Hoje, as crianças formam um atrativo mercado, com maior autonomia nas escolhas de seus produtos e serviços.

Não podemos deixar de considerar que crianças também são grandes consumidoras de produtos como alimentos e vestuários, além de serviços direcionados como bufês infantis, escola de esportes , dança , teatro, entre outras.

Mas o grande fascínio lúdico está no mundo dos brinquedos. Posso atestar que vivi experiências fascinantes no conhecimento do universo dos sonhos das Bonecas Barbies aos Playstations. Visitei lojas de diferentes regiões de São Paulo – Capital. Da classe alta a classe baixa e o que no fundo verifiquei, foi que a alegria que um brinquedo proporciona é única na vida de uma criança, seja ele dado a qualquer momento, ou seja, não necessitando de apelos sazonais como aniversários, dias especiais, natais, entre outros.

Existe outro fator predominante no varejo infantil: - O mercado dos “apaixonados”, qualificação essa que designei para descrever os casais enamorados de todas as idades e preferências sexuais que não economizam na compra de um presente que tente representar o sentimento destinado ao outro. Categoria essa muito comum ao setor de brinquedos de pelúcia.

Nadia Gargiulo , talentosa executiva e proprietária da Lojas de Brinquedos Laura, afirma que “normalmente existe uma harmonia entre os pais e filhos no fascínio dos produtos ofertados na loja.” Posso afirmar isso, pois por pouco, não trouxe para mim, a coleção completa de bonecas importadas com carinhas de bebês que são exclusivamente vendidas lá. Além disso, o envolvimento que senti em seu ambiente de fadas, bruxas, heróis e muita tecnologia, acionou completamente meu lado infantil e me fez sentir de novo com 12 anos de idade.

Nem sempre ocorre concordância na escolha do produto a ser comprado, pois não podemos ignorar o fator financeiro, mas no fundo, todos nós, pais, tios, avós sempre acabamos cedendo ao que nos parece impossível.


MAIS QUAL É A REAL INFLUÊNCIA DAS CRIANÇAS NAS COMPRAS?

A questão da influência da criança sobre as compras da família é um ponto que interessa há muito tempo aos profissionais de comunicação e marketing. A questão subjacente para o mercado é "como a criança desempenha o papel de influenciadora?" É sabido que a criança assume um papel cada vez mais importante nas decisões de compra familiares. O que ainda não se sabe ao certo, é como se dá essa influencia no mercado brasileiro. Para tanto é necessário entender o processo de socialização do consumidor infantil e investigar a interação das crianças com pais na hora da compra.

A bibliografia no Brasil dedicada ao consumo no mercado infantil ainda é muito escassa. Estudos nessa área também são poucos conhecidos, pois influenciar o comportamento de compra de um adulto já é algo controverso; quando aplicado ao universo da criança, o problema cresce em grandes proporções.

Mas no fundo disso tudo, o que temos é a simbiose da relação entre pais e filhos, onde ambos dividem o mesmo “danoninho”, compartilham os filmes em DVD, computadores e até brincam com os mesmos brinquedos.

Aqui cabe ressaltar que estamos falando de um perfil que segundo alguns renomados psicólogos, as crianças passam por três etapas associadas a faixa de idade. De 0 a 2 anos, dá-se a fase do Universo das Observações, da qual as crianças descobrem o universo das compras acompanhadas pelos pais, sem conseguir distinguir marcas ou produtos. O Universo das Indagações (3 a 5 anos) é a fase do “eu quero”, em que a criança inicia a manifestação dos seus desejos de compra e fazem suas solicitações aos pais. Elas já são capazes de reconhecer as marcas, distinguir entre embalagens e localizar produtos em prateleiras. Quando a criança começa assumir uma postura mais ativa e seletiva em relação às escolhas de marcas e produtos, ela entra no Universo Racional, que compreende a faixa dos 6 aos 12 anos de idade.

Já para o Professor , João Matta – especialista em marketing o público infantil se comporta de forma diferente a cada faixa etária e na influência que os pais exercem na escolha de seus produtos. "Os pais exercem uma forte influência sobre seus filhos até os quatro anos de idade. A partir daí, até os oito ou nove anos, a influência de ambos se equilibra no consumo infantil. A partir dos nove anos, quando tem início uma séria fase de negação da infância, a criança, que não gosta de ser chamada de criança, nega diretamente a influência dos pais".
Com mais liberdade e poder de decisão na hora da compra, a realidade do marketing de produtos infantis modificou-se, passando a considerar este público não mais apenas como consumidores e influenciadores, mas também como verdadeiros compradores de produtos e serviços. Meninas e meninos de até 12 anos movimentaram cerca de US$ 187 bilhões em todo o mundo. Um mercado bastante atrativo, principalmente nos segmentos ligados à moda, como roupas e acessórios, eletroeletrônicos e brinquedos.

Concluindo, posso afirmar que a grande verdade é que a criança tem adquirido maior acesso a informações, chegando cedo a uma maturidade de consumo, tornando-se cada vez mais exigente com os produtos que lhe oferecem.